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Vazio fundiário está entre os motivos do alto índice de queimadas na região de Feijó e Tarauacá

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Nos últimos cinco anos, pelo menos, a região mais centralizada do estado do Acre, onde estão localizados os municípios de Feijó e Tarauacá, tem se destacado pelos altos índices de focos de queimadas, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

O exemplo maior dessa situação é Feijó, que desde o começo de agosto figura entre os 10 municípios do Brasil com os maiores registros de focos de calor detectados pelo satélite de referência AQUA Tarde, da Agência Espacial Americana (Nasa), cujos dados são utilizados pelo INPE.

Para se ter uma ideia mais clara disso, a chamada “terra do açaí” é o terceiro município do Brasil com mais ocorrências de fogo nas últimas 48 horas, atrás de Lábrea (AM) e Altamira (PA). O acumulado de Feijó desde o começo deste ano corresponde a quase um quarto do total do estado.

No período de 1º janeiro até 17 de agosto de 2021, Feijó acumulou nada menos que 593 focos de queimadas, dos quais 523 apenas foram detectados no mês atual. O município vizinho de Tarauacá vem em seguida, a uma certa distância, com 390 focos registrados desde o começo do ano.

Mas o que explica essa discrepância nos números que, principalmente, Feijó apresenta em seus dados com relação aos demais municípios acreanos, no decorrer dos últimos anos, de maneira especial em 2021 com relação aos registros de focos de queimadas?

Quem responde é a pesquisadora Sonaira Souza da Silva, da Universidade Federal do Acre, coordenadora do projeto Acre Queimadas. Ela é entusiasta da aplicação de sensoriamento remoto e geoprocessamento para entender os padrões da cobertura do solo no Estado do Acre.

Segundo ela, o que ocorre naquela região do estado é resultado de vários fatores que atuam de maneira combinada. Primeiramente, a engenheira agrônoma e mestre em Produção Vegetal pela Universidade Federal do Acre diz que tudo começou com o melhoramento da BR-364.

“Aquela área era um grande vazio de ocupação agrícola até por volta de 2016 devido às condições da rodovia federal. Então, depois que começou a abrir, foram chegando pessoas de fora do estado, principalmente de Rondônia, Mato Grosso e de outras regiões, que vêm em busca de terras baratas”, explicou.

A pesquisadora também afirma que essa ocupação, basicamente sem nenhuma fiscalização e sem ter uma política forte de incentivo a produções mais sustentáveis, proporciona uma ocupação que é feita com base em desmatamento e queimada, maneira como têm se constituído muitas grandes fazendas naquela região.

De acordo com os dados do DETER, levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia, feito pelo INPE, os maiores polígonos de desmatamento no Acre estão nesta mesma região, com áreas de cerca de 200 a 600 hectares de uma única vez.

Os dados sobre o desmatamento na região mostram que a ocupação que ocorre ali não é apenas de pequenos produtores, mas também de médios e grandes. Sonaira também explica como esse processo de instalação de pessoas que vêm de fora ocorre de maneira mais fácil que em outros pontos do estado.

“Ali é uma área que tem muito vazio fundiário, muitos antigos seringais, muitas terras não destinadas, poucos projetos de assentamento e poucas unidades de conservação, nesse eixo, o que acarreta que a ocupação agrícola é mais facilitada do que na região leste do estado”, esclareceu.

Perguntada sobre se existe omissão das autoridades ambientais relacionada a esse processo de ocupação que resulta em desmatamento e queimadas nessa região do estado, Sonaira diz que há uma escassez de muitos anos de políticas ambientais por parte de todas as esferas administrativas.

“Eu acho que é uma questão de enfraquecimento de políticas públicas ambientais não só no nível estadual, mas também federal e municipal, que tem ocorrido ao longo do tempo, nos últimos governos. Tem que haver uma política de incentivo a cadeias de produtos florestais e não florestais que freie esse desmatamento”, concluiu.

Via-Raimari Cardoso

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