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‘Um susto’, diz mãe de menino de 4 anos vacinado por engano contra Covid-19 em Itirapina, SP

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Por engano, 46 pessoas receberam a CoronaVac no lugar de dose contra gripe. Técnica em enfermagem foi afastada e processo administrativo investiga o caso. Polícia Civil também apura.

Um susto. É assim que a faxineira Milena Jeane Ribeiro, mãe de um menino de 4 anos que recebeu a dose da vacina contra a Covid-19 no lugar da vacina contra gripe, em Itirapina (SP), definiu a situação em entrevista nesta quinta-feira (16).

“Foi um susto. Vacinei na terça-feira, na quinta entraram em contato comigo e já passei na pediatra. Não aconteceu nada, mas a gente fica preocupada. Foi um erro, todo mundo erra, mas graças a Deus meu filho está bem”, disse.

Na terça-feira (13), 46 pessoas foram vacinadas contra a Covid-19 por engano, na pequena cidade do interior de São Paulo, após uma técnica em enfermagem errar ao separar as doses dos imunizantes contra a Covid e contra a gripe. Entre os vacinados de forma errada estão 18 adultos – sendo duas gestantes – e 28 crianças, na faixa etária de 1 a 5 anos.

Segundo a prefeitura, todos que receberam a dose estão sendo acompanhados e nenhum deles teve sintomas ou efeitos adversos. Quatro profissionais receberam uma terceira dose da CoronaVac e passam bem.

A profissional foi afastada e um processo administrativo da prefeitura apura as circunstâncias do erro.

Um boletim de ocorrência foi registrado e a Polícia Civil investiga o caso vai ouvir testemunhas. O inquérito ainda não foi aberto.

Em Diadema, na Grande São Paulo, outras cinco crianças foram vacinadas contra o coronavírus após um erro na Unidade Básica de Saúde do Jardim das Nações. As crianças têm entre sete meses e quatro anos de idade e deveriam ter sido imunizadas contra a gripe.

Compara os frascos das vacinas  — Foto: Amanda Paes/Arte G1

Compara os frascos das vacinas — Foto: Amanda Paes/Arte G1

‘Ganhou na loteria’

Milena contou que a pediatra que atendeu seu filho na sede da vigilância fez uma comparação como se eles tivessem ganhado na loteria com o erro.

“Ela disse que a gente tinha que dar graças a Deus que os nossos filhos estavam vacinados e que se fosse o dela, ela estaria feliz porque a gente tinha ganhado na loteria de ter vacinado nossas crianças. Mas eu acho que nossas crianças não são cobaias para servir de testes”, contou.

Com medo, a mãe resolveu levar o filho em uma consulta particular em um pediatra de Araraquara, cidade a 79 km de Itirapina. “Ele [pediatra] falou para eu colocar ele em observação durante 15 dias”, relatou.

Em nota, o Instituto Butantan informou que, conforme consta em bula, a vacina contra o novo coronavírus é indicada para indivíduos com 18 anos ou mais. “Não há conclusões científicas até o momento de segurança ou eficácia da vacina vacina adsorvida covid-19 (inativada) na população pediátrica ou em gestantes”.

Disse ainda que é importante que, em casos como esse, as vigilâncias municipais acompanhem e coletem informações individuais das crianças e/ou gestantes expostas, solicitando que busquem orientação imediata nos serviços de saúde caso apresentem algum evento adverso.

“Também é recomendável que essas pessoas, vacinadas erroneamente com a Coronavac, aguardem por 14 dias antes de receberem a vacina contra a gripe. Cabe ressaltar que, no caso de crianças e/ou gestantes expostas à vacina de covid-19, não é indicada a aplicação da segunda dose do imunizante”, informou no comunicado.

José Vitor tomou a dose da vacina errada, após erro de técnica em enfermagem de Itirapina (SP) — Foto: Milena Jeane/Arquivo Pessoal

José Vitor tomou a dose da vacina errada, após erro de técnica em enfermagem de Itirapina (SP) — Foto: Milena Jeane/Arquivo Pessoal

O menino Pedro, de apenas 1 ano e 10 meses, também está entre os vacinados contra Covid por engano. A mãe dele, Jéssica Aparecida Santos Conduta, conta que, na manhã desta quinta-feira (15), foi chamada para ir à Vigilância em Saúde e informada sobre a troca das vacinas. Desesperada, ela ligou para a pediatra pedindo ajuda.

“Por ser a CoronaVac, ela acredita que não haverá reações, mas que eu tenho que observar e passar tudo para ela. Ela me orientou para que eu não fizesse nenhum tipo de exame por fora”, afirmou.

A compradora Taíza Favaro também ficou preocupada quando soube que o filho de 2 anos tomou a vacina errada. Ela disse que a Vigilância em Saúde quer marcar a segunda dose da vacina para o garoto, mas ela tem receio. 

Mãe fala de desespero ao saber que filho recebeu dose contra Covid por engano em Itirapina

Mãe fala de desespero ao saber que filho recebeu dose contra Covid por engano em Itirapina

“Eu entrei em contato com a pediatra e ela orientou a não tomar a segunda dose porque a vacina é contraindicada para crianças”, contou.

Equipe médica acompanha famílias

Em uma publicação nas redes sociais, a prefeita Dona Graça (PSDB) disse que não iria crucificar ninguém pelo erro e que queria se solidarizar com todos os moradores que tomaram as vacinas trocadas.

“Vocês saibam que nós tomamos todas as providências. Primeiramente com relação a sua segurança na questão de saúde: conversamos com a Vigilância Sanitária, regional, que nos passou algumas informações e orientações. Conversamos com os médicos que nos deixaram mais tranquilos porque nos informaram que não é para acontecer nada de anormal”, declarou.

Dona Graça (PSDB) fez vídeo falando sobre a troca das vacinas em Itirapina — Foto: Reprodução/Facebook

Dona Graça (PSDB) fez vídeo falando sobre a troca das vacinas em Itirapina — Foto: Reprodução/Facebook

A prefeita disse que a administração já colocou uma equipe médica para receber as pessoas, adultos e crianças, que tomaram a dose trocada para fazer um acompanhamento e analisar se algum deles irá apresentar algum efeito colateral.

Com relação a parte administrativa e jurídica, Dona Graça informou que também já estão cuidados, porque vão apurar como o erro aconteceu.

“A gente acha assim, imperdoável, embora não queiramos crucificar ninguém, mas essa falta de atenção, essa displicência. Talvez porque estão cansados, o pessoal vem vindo de uma jornada longa de vacinação, pode ser isso, mas temos que curar. E tomar as medidas que devem ser tomadas. Porque a administração pública não pode ficar sem uma ação. É isso que eu queria dizer pra vocês”, completou.

Investigação policial

Segundo a delegada Lhaís Navarro Hamid, familiares de crianças procuraram a delegacia após o erro na vacinação.

“A depender dos efeitos colaterais que cada um desses indivíduos, inclusive as crianças que foram vacinadas apresentarem, nós teremos a caracterização de crimes contra a saúde pública e eventuais lesões corporais. Ainda iremos investigar se de natureza culposa ou dolosa, mas os fatos estão sob investigação”, declarou.

Delegacia de Itirapina (SP) — Foto: Gabrielle Chagas/G1

Delegacia de Itirapina (SP) — Foto: Gabrielle Chagas/G1

Lhaís explicou que neste momento serão ouvidos os maiores de idade que tomaram a vacina, os responsáveis pelos menores de idade, os funcionários da Secretaria de Saúde e os médicos que estão atendendo os pacientes que foram vacinados.

“A depender do contorno dos fatos, os responsáveis por toda a cadeia de vacinação poderão ser enquadrados nas figuras de crimes contra a saúde pública por eventuais crimes de lesão corporal, porque a lesão corporal se caracteriza também quando há uma ofensa a saúde de cada um desses indivíduos que foram vacinados”, explicou.

A delegada ainda pediu que quem foi indevidamente vacinado, parentes ou responsáveis dos menores, para irem até a delegacia prestarem depoimento sobre o fato.

O que diz o médico sanitarista?

Em entrevista à Rádio CBN, o médico sanitarista Rodolpho Telarolli explicou que a CoronaVac é uma vacina que tem como ‘vantagem’ ser elaborada com vírus inativado.

“A própria vacina contra a gripe que é oferecida para as crianças e gestantes é produzida dentro desse modelo. Temos várias outras vacinas do calendário nacional de imunização que também são produzidas dentro desse modelo. Então é possível, embora a gente não tenha a certeza absoluta, é muito possível que nada venha acontecer com as crianças pequenas e gestante, com aqueles que foram vacinados para a Covid”, afirmou.

De acordo com o médico, as pessoas que receberam a dose trocada deverão ser acompanhadas por médicos de duas a três vezes na semana e que o mais provável é que poucos desses moradores tenham os sintomas comuns a vacina, que é uma dor, vermelhidão no local, indisposição e estado febril, que pode durar de dois a três dias.

“Poucas pessoas adultas, idosos, profissionais da saúde vacinados Coronavc tem apresentando em pequeno número esse tipo de sintoma”, declarou.

Por engano, 46 moradores de Itirapina recebem dose contra a Covid na vacinação da gripe

Por engano, 46 moradores de Itirapina recebem dose contra a Covid na vacinação da gripe

Doses trocadas

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Itirapina, o erro foi percebido durante o controle do estoque das vacinas, na quarta-feira (14), quando foi notada a falta de 46 doses da Coronavac.

De acordo com a Prefeitura de Itirapina, uma técnica de enfermagem enviou erroneamente frascos da Coronavac do Centro de Saúde para o local onde está ocorrendo a campanha de vacinação contra gripe (influenza), na Escola José Cruz. Apenas a profissional que aplicou a vacina foi identificada. O nome dele não foi divulgado.

A campanha de imunização contra a gripe começou na segunda-feira (12). Para não causar conflito com a imunização contra a Covid, a 1ª etapa , que geralmente começa pelos idosos, foi destinada este ano a crianças maiores de 6 meses e menores de 6 anos, gestantes, puérperas, povos indígenas e trabalhadores da saúde.

Produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, CoronaVac é aplicada em massa em moradores de Serrana (SP) — Foto: Instituto Butantan/Divulgação

Produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, CoronaVac é aplicada em massa em moradores de Serrana (SP) — Foto: Instituto Butantan/Divulgação

Acompanhamento e apuração

A Secretaria de Saúde de Itirapina comunicou à Vigilância Epidemiológica de Piracicaba sobre a falha e solicitou orientações sobre as medidas a serem adotadas. Eles também informaram que já tomaram as providências na apuração de responsabilidades, na área administrativa e legal.

Ainda segundo a prefeitura, todos os vacinados foram informados pessoalmente e a Secretaria de Saúde disponibilizou uma equipe médica para avaliação e orientação, com acompanhamento por 14 dias, das pessoas envolvidas.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que a orientação é para que estados e municípios façam o acompanhamento e monitoramento de possíveis eventos adversos à quem recebeu as doses das vacina covid-19 por engano por, no mínimo, 30 dias.

*Colaboração de Michelle Jardim, da CBN São Carlos

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