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Superfetação; é possível engravidar mesmo já estando grávida?

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“Tenho filhas gêmeas que foram concebidas com uma semana de diferença. Quando engravidei da Cecília, já estava grávida da Helena —as duas são recém-nascidas. Mas nossa história começa muito antes da gestação. Meu marido Welton, que tem 36 anos, foi diagnosticado como infértil. Ele não poderia ser pai. Estamos juntos há nove anos e tentando ter filhos há três. Descobrimos há um ano esse diagnóstico, e o médico ainda escreveu infértil bem grande no exame. Para nós, ele explicou que, se quiséssemos engravidar, precisaríamos gastar muito dinheiro. Mas não foi o que aconteceu.

Nós moramos em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, e meu marido encontrou um ótimo médico na capital do estado para fazer um tratamento. O problema era que ele tinha baixa produção e má qualidade de espermatozoides. Para se ter uma ideia, ele tinha cerca de 9 milhões espermatozoides e, desses, apenas 10% tinham qualidade. Uma pessoa saudável tem cerca de 60 milhões. Naturalmente, seria impossível que eu engravidasse.

Mesmo com ele tomando medicamento e em tratamento, o prazo dado pelo médico para que o tratamento funcionasse era muito curto: apenas seis meses. O acompanhamento de um profissional fez toda a diferença, e o último espermograma que meu marido fez tinha cerca de 80 milhões de espermatozoides com 60% deles com qualidade. E mesmo assim não engravidei rápido.

Faltavam 30 dias para o nosso prazo final dado pelo médico e estávamos viajando. Fui à farmácia comprar um teste e descobri que estava grávida. Durante a viagem mesmo procurei um laboratório para fazer um ultrassom transvaginal. O profissional viu apenas um saco gestacional. Chegando em Cabo Frio, procurei um obstetra e comecei o acompanhamento. Até então, acreditávamos que teríamos apenas um bebê. Fizemos outro ultrassom e tudo indicava isso. Foi apenas durante o segundo transvaginal que o médico percebeu que eu tinha, na verdade, dois sacos gestacionais.

E não foi só isso: um dos sacos estava menor do que o outro. Fazendo as medições, o médico descobriu que um era, pelo menos, uma semana mais novo do que o outro. Algo de seis dias, para ser bem exata. Foi nesse momento que descobrimos que elas foram concebidas em dias diferentes, com uma semana de diferença.

O médico nos explicou que eu ovulei uma segunda vez, uma semana depois, como se meu corpo não tivesse reconhecido a primeira ovulação. Dessa forma, dois óvulos foram fecundados, mas com diferenças de dias. Eu já estava grávida de uma semana quando engravidei novamente. Não tem como explicar a sensação que tive quando descobrimos. Só tinha visto uma vez uma reportagem de uma mulher dos Estados Unidos com esse caso. Nunca achei que aconteceria comigo. Me senti muito agraciada por esse presente.

No primeiro instante não acreditávamos. Recebemos a notícia justamente em um dia que o WhatsApp não estava funcionando, então fui ligando para as pessoas, e elas não acreditavam na notícia. Tinham muitas dúvidas por serem duas de dias diferentes. Perguntavam principalmente sobre o dia que elas iam nascer.

Mesmo com essa diferença, meu pré-natal foi normal, como se eu estivesse grávida de apenas um bebê, só que com um pouco mais de atenção. O meu médico nos deixou bem tranquilos, principalmente em relação ao parto. Como elas tinham tempos diferentes, mas de poucos dias, o risco de algo acontecer no parto não era tão alto, mas o ideal era levar a gestação o mais longe possível que eu conseguisse. O plano era chegar às 38 semanas, mas elas nasceram com 36, as duas no mesmo dia.

Nossa família e amigos nos deram praticamente tudo. Ganhamos berço, carrinho, guarda-roupa, muitas fraldas. Fomos muito abençoados. Muitos amigos se empolgaram. E hoje temos nossas duas filhas: a Helena, da primeira gestação, e a Cecília, da segunda”, Erica Braga da Silva Rodrigues, 29, vendedora, Cabo Frio (RJ).

A medicina explica

O caso de Erica é raro e é chamado de “superfetação”. “A mulher ovula, tem a fecundação do óvulo, que demora de sete a dez dias para grudar no útero e fazer o órgão entender que está ‘grávido’. Nessa janela, pode acontecer uma segunda fecundação”, diz a ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana Karen Rocha De Pauw.

Quem vê a história, pode até achar que o caso aconteceu devido ao tratamento do marido, mas não: é algo exclusivo do corpo da mulher. Se ela não tivesse ovulado duas vezes, o sêmen não teria o que fecundar. “O médico só conseguiu ver no segundo ultrassom que ela estava grávida novamente por causa desse período de tempo. E é fácil para nós sabermos se esse é o caso. O embrião é medido em milímetros, e costuma dobrar de tamanho de uma semana para outra”, conta Karen, explicando como se identifica a segunda fecundação.

A superfetação só vai acontecer se a mulher ovular duas vezes e tiver esses óvulos fecundados no intervalo de, no máximo, duas semanas. “Não tem como ser um mês de diferença entre os bebês, por exemplo. O útero se fecha e não é possível fecundar mais nenhum óvulo depois dessa janela”, explica a especialista.

Por UOL Notícias

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