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Principal comandante dos EUA na Ásia pede resposta a disparos chineses ao redor de Taiwan

De acordo com o chefe da Sétima Frota, é 'muito importante' que haja represália às manobras militares orquestradas pela China após visita de Nancy Pelosi a Taipé.

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O principal comandante naval dos Estados Unidos na Ásia criticou nesta terça-feira o que chamou de ações “provocativas e perigosas” de aviões de guerra chineses no Pacífico. O vice-almirante Karl Thomas, comandante da Sétima Frota americana, com sede no Japão, disse ainda que as maiores manobras de guerra que Pequim já realizou ao redor de Taiwan, inclusive com o lançamento de mísseis, precisam de uma resposta.

— É muito importante que respondamos a este tipo de ação — disse Thomas em uma entrevista à imprensa em Cingapura, onde os EUA participarão de treinamentos militares nos próximos dias. — Se permitirmos que isto aconteça e não respondermos, essa será a norma depois (…) É irresponsável lançar mísseis sobre Taiwan em águas internacionais, onde operam rotas marítimas e há livre navegação.

As manobras ao redor da ilha que a China vê como parte indissociável de seu território foram uma resposta ao que Pequim considerou uma provocação do governo americano. As já altas tensões na região se acirraram após a visita da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taipé nos últimos dias 2 e 3. A democrata Pelosi foi a integrante de mais alto escalão do governo americano a visitar Taiwan desde 1997.

Os chineses anunciaram que seus exercícios militares na região chegaram ao fim no último dia 10, após serem bem-sucedidos em “obliterar” a linha mediana que divide informalmente o Estreito. Na segunda, as manobras foram retomadas, não está claro se pontualmente ou não, em repúdio à visita de uma delegação de mais cinco parlamentares americanos à ilha. Aparentemente, no entanto, não houve uso de munição real.

E as patrulhas, anunciaram os chineses, serão frequentes, um sinal do acirramento da situação regional. Nesta terça, Pequim adicionou também o nome de sete funcionários do governo taiwanês a uma lista de sanções, classificando-os como “fanáticos” pela independência da ilha: entre eles, Hsiao Bi-khim, representante de Taipé em Washington.

A reunificação de Taiwan é uma meta do governo chinês desde que os nacionalistas fugiram para a ilha ao serem derrotados na guerra civil, em 1949. Na semana passada, Pequim divulgou um livro branco, documento de orientação da política para o território, afirmando que fará tudo para a reunificação pacífica, mas poderá usar a força se Taipé e forças externas “cruzarem linhas vermelhas”, como uma declaração formal de independência.

Os americanos, por outro lado, embora tenham se comprometido com o princípio de “uma só China” ao reatar relações com Pequim em 1979, mantêm o apoio ao status atual da Taiwan autogovernada e fornecem ajuda militar à ilha. A reunificação de Taiwan à China continental poria em xeque a supremacia militar americana no Pacífico ao dar a Pequim o controle do estreito que separa os dois territórios.

Nesta terça, o vice-almirante traçou um paralelo entre o que os EUA consideram ser uma ameaça a Taiwan e o comportamento de Pequim no Mar do Sul da China, onde há disputas territoriais entre os chineses e os seus vizinhos:

— Se você não desafiar (…) de repente, pode acontecer como nas ilhas do Mar do Sul da China, que se tornaram postos militares avançados — afirmou Thomas. — Agora são postos militares em pleno funcionamento que têm mísseis, grandes pistas, hangares, radares, postos de escuta.

Interceptações ‘perigosas’

A poderosa Sétima Frota é o elemento central da presença naval americana no Pacífico desde a Segunda Guerra Mundial. Durante a entrevista, seu líder também expressou preocupação com o que classificou como “esforços cada vez mais assertivos” do Exército de Libertação Popular da China para interceptar aeronaves militares dos EUA e aliados nos céus do Pacífico.

Thomas caracterizou as interações com os militares chineses, de forma geral, como “relativamente profissionais”, mas acusou as forças de Pequim de aumentarem a agressividade durante operações de “liberdade de navegação” americanas e quando aviões aliados se aproximam de áreas que Pequim considera sensíveis. Disse, contudo, que os incidentes ainda assim são “pouco frequentes”.

— Houve um aumento do que consideraríamos interceptações perigosas, pouco profissionais ou fora dos padrões, e não é só com aeronaves americanos, mas também com as de nossos parceiros — disse ele.— É a natureza provocativa das interceptações que chamou nossa atenção.

Mais cedo neste ano, a Austrália e o Canadá acusaram a China de realizar interceptações perigosas de aeronaves de patrulha durante missões de vigilância e monitoramento nos mares do Leste e do Sul da China.

— Se você está tentando enviar um sinalizador do seu avião para chamar a atenção de alguém porque talvez eles vão entrar no seu espaço aéreo ou algo assim, isso pode ser uma coisa, mas se você estiver operando no espaço aéreo internacional, isso é isso é outra coisa — afirmou Thomas. — Quando você começa a fazer essas coisas (…) começa a cruzar linhas que, francamente, são inaceitáveis.

Treinamentos militares

O comandante está em Cingapura para participar dos exercícios chamados de Treinamento e Cooperação no Sudeste Asiático, que ocorrem há mais de duas décadas reunindo boa parte dos países da região e aliados ocidentais. Em paralelo, os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul anunciaram nesta terça que realizaram um exercício de defesa na costa do Havaí, em resposta ao que dizem ser ameaças da Coreia do Norte e da China.

Embora os exercícios sejam realizados a cada dois anos desde 2012, eles não foram divulgados em 2018 ou 2020, pois as tensões aumentaram entre Tóquio e Seul. O então presidente sul-coreano Moon Jae-in também estava cauteloso em fazer manobras militares públicas que pudessem azedar os laços com a China ou sua reaproximação com a Coreia do Norte.

O presidente Yoon Suk-yeol, o conservador que substituiu Moon em maio, decidiu intensificar os exercícios conjuntos com os EUA, enquanto seu governo adota uma linha mais dura frente a Pequim e Pyongyang. Biden, por sua vez, tenta reforçar a aliança com o Japão e a Coreia do Sul, enquanto busca construir uma frente unida em questões que vão desde segurança até cadeias de suprimentos para semicondutores.

Com informações O Globo

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