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Mudança climática: ‘é agora ou nunca’ para evitar catástrofe, diz novo relatório

Cientistas de um órgão da ONU anunciaram um novo plano para tentar deter a tempo as consequências devastadoras das mudanças climáticas.

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Integrantes do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês) produziram um relatório que defendem cortes “rápidos, profundos e imediatos” nas emissões de dióxido de carbono (CO2).

As emissões globais de CO2 precisam começar a cair no máximo até 2025 para evitar os piores impactos no planeta. Mesmo assim, o mundo também precisaria de tecnologia para retirar CO2 dos céus nas próximas décadas.

Após uma sessão para aprovar o relatório, em que cientistas e funcionários de governos analisaram detalhadamente a análise, o IPCC da ONU publicou orientações para evitar um futuro com catástrofes em sequência.

Primeiro, as más notícias: mesmo que todos os esforços para reduzir emissões de carbono tivessem sido implementadas pelos governos até o final de 2020, o mundo ainda teria um alta de 3,2°C na temperatura global neste século.

Esta descoberta provocou a ira do secretário-geral da ONU, o português António Guterres. “Alguns governantes e empresários estão dizendo uma coisa e fazendo outra. Simplificando, eles estão mentindo. E os resultados serão catastróficos.”

O aumento de temperatura fará com que o planeta seja atingido por “ondas de calor sem precedentes, tempestades aterrorizantes e escassez generalizada de água”.

Para evitar que isso aconteça, o mundo deve limitar a alta global para um patamar abaixo de 1,5°C neste século, dizem os pesquisadores.

‘Chegamos ao limite’

A boa notícia é que este último relatório do IPCC mostra que isso pode ser feito, no que Guterres chama de “uma maneira viável e financeiramente sólida”.

O custo final não seria tão elevado, com uma diferença de poucos pontos percentuais no PIB mundial. Mas o esforço será gigantesco.

Manter as temperaturas baixas exigirá grandes mudanças na produção de energia, da indústria, nos transportes, nos nossos padrões de consumo e na maneira como tratamos a natureza.

Ficar abaixo de 1,5°C, de acordo com o IPCC, necessariamente implica que a circulação de carbono de tudo o que fazemos, compramos, usamos ou comemos precisa cair rapidamente depois de 2025 (quando atingiria o pico) e cumprir o objetivo de emissão zero até meados deste século.

“O que o relatório nos diz é que chegamos ao ponto de ‘é agora ou nunca’ para limitar o aquecimento a 1,5°C”, disse a principal pesquisadora do IPCC, Heleen De Coninck, professora de inovação sociotécnica e mudanças climáticas na Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda.

Em entrevista, ela disse que “temos que atingir o pico de nossas emissões de gases de efeito estufa antes de 2025 e, depois disso, reduzi-las muito rapidamente. E teremos que fazer emissões negativas [por exemplo, com técnicas como reflorestamento] ou remoção de dióxido de carbono na segunda metade do século, logo após 2050, para limitar o aquecimento a 1,5°C.”

Ciclofaixa
Legenda da foto,Os governos precisarão implementar um transporte com baixo uso de carbono

Os próximos anos são críticos, dizem os pesquisadores, porque se as emissões não forem reduzidas até 2030, será praticamente impossível limitar o aquecimento global no final deste século.

A chave para isso no curto prazo será a forma como geramos energia. Um ponto positivo é a queda nos preços de equipamentos de energia renovável, como painéis solares e as turbinas eólicas. Os custos caíram cerca de 85% na última década.

“É fim de jogo para os combustíveis fósseis, que tanto alimentam guerras quanto o caos climático”, disse Kaisa Kosonen, do Greenpeace, que foi observadora na sessão de aprovação no IPCC.

“Não há espaço para desenvolver mais o setor de combustíveis fósseis. E as usinas de carvão e gás que já temos vão precisar fechar logo.”

Mas os estilos de vida, incluindo as nossas dietas, também precisarão mudar, de acordo com os autores.

“Ter políticas adequadas de infraestrutura e tecnologia para permitir mudanças em nossos estilos de vida e comportamento pode resultar em uma redução de 40-70% nas emissões de gases de efeito estufa até 2050. Isso oferece um potencial inexplorado significativo”, disse o copresidente do IPCC, Priyadarshi Shukla.

“Há evidências também de que essas mudanças no estilo de vida podem melhorar nossa saúde e bem-estar”.

Na prática, isso significa que governos precisam incentivar a população para fazer mais caminhadas e ter uma alimentação saudável, além de implementar infraestrutura para veículos elétricos.

Um dos aspectos mais controversos do relatório diz respeito à remoção do dióxido de carbono da atmosfera.

Isso pode ser feito de várias maneiras, inclusive plantando árvores e fazendo mudanças nas práticas agrícolas.

Estação de energia solar
Legenda da foto,Custo da energia alternativa caiu drasticamente na última década

Mas o relatório conclui que, para evitar que o aquecimento ultrapasse o perigoso limite de 1,5°C, precisaremos de mais do que novas florestas.

Manter as temperaturas baixas exigirá que as máquinas removam o CO2 diretamente da atmosfera.

Isso é muito controverso, pois a tecnologia é nova e atualmente muito cara.

Alguns participantes do processo do IPCC são altamente céticos sobre como essas abordagens funcionam.

“A ideia de reduções rápidas de emissões e grandes tecnologias de emissões negativas são uma preocupação”, disse o professor Arthur Petersen, da UCL, que foi observador na sessão de aprovação.

Por BBC

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