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Mais de 100 indígenas de 5 etnias guiam as buscas por Bruno Pereira e Dom Philips

Voluntários das etnias Marubos, Maiurunas, Matis, Kulinas e Kanamaris começaram a procurar pelos dois no dia 5, quando foram vistos pela última vez na região do Vale do Javari, na Amazônia. Buscas completam 11 dias nesta quarta - 10 pelas autoridades oficiais.

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Indígenas de diferentes etnias têm guiado as equipes oficiais integradas por homens da Polícia Federal, Exército e Marinha nas buscas pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista Dom Phillips, desaparecidos no Amazonas. O grupo de indígenas, que faz uma investigação por conta própria, foi responsável por achar os pertences dos dois e também por encontrar o barco de Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, investigado pelo desaparecimento. Em seguida, as autoridades foram informadas. Nesta quarta-feira (15), as buscas completam 11 dias – 10 pelas autoridades oficiais.

Os indígenas começaram as buscas pelos dois no dia do desaparecimento, em 5 de junho. Eles chegaram a montar um acampamento flutuante e itinerante na região onde Bruno e Dom foram vistos pela última vez.

De acordo com o assessor jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Yura Marubo, participam dos trabalhos indígenas das etnias Marubos, Maiurunas, Matis, Kulinas e Kanamaris. O grupo tem cerca de cem voluntários, que atuam em uma área de 10 Km.

“Esse trabalho tem se concentrado abaixo da Comunidade Cachoeira e envolve todas as etnias que estão no Vale do Javari. Os Marubos estão atuando, os Maiurunas encontraram a entrada no igapó que pode ter sido feita por uma embarcação. Os Matis encontraram os pertences. Temos também os Kanamaris e os Kulinas fazendo as buscas por terras. Então, é um trabalho em conjunto”.

Indígenas fazem protesto na segunda-feira (13), em Atalaia do Norte, município onde Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram. — Foto: REUTERS/Bruno Kelly
Indígenas fazem protesto na segunda-feira (13), em Atalaia do Norte, município onde Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram. — Foto: REUTERS/Bruno Kelly

Os indígenas montaram equipamento na margem esquerda do Rio Itaquaí. Lá, eles fazem um trabalho minucioso de investigação, tanto no solo quanto no rio. Ao encontrar algo que tenha o mínimo vestígio de ligação com o desaparecimento de Bruno e Dom, eles acionam a coordenação da Univaja que, posteriormente, informa às autoridades competentes.

Foi assim que aconteceu com uma lona e os pertences de Bruno e Dom encontrados em uma área de igapó. Os indígenas acharam os materiais no sábado (11) e a Univaja comunicou à polícia, que foi até o local no domingo (12) e isolou o local.

Indígenas montaram equipamento próximo ao local das buscas. — Foto: Rôney Elias/Rede Amazônica
Indígenas montaram equipamento próximo ao local das buscas. — Foto: Rôney Elias/Rede Amazônica

Segundo Yura, as equipes de indígenas que participam das buscas foram treinadas pelo próprio indigenista Bruno Pereira durante uma atividade da Univaja, no passado. Agora, são elas que procuram pelo instrutor e contam com o reforço de equipamentos via satélite.

“Chegaram equipamentos, como telefones via satélite de última geração, e esse equipamento está com essa nossa equipe que foi treinada pelo próprio Bruno. Além disso, a gente também conta com outros georreferenciamentos e vamos investir em tudo o que a gente pode para acha os dois”.

Protestos pedem solução do caso

Indígenas protestam em Atalaia do Norte (AM) e cobram mais rapidez nas buscas por Bruno Pereira e Dom Phillips. — Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Indígenas protestam em Atalaia do Norte (AM) e cobram mais rapidez nas buscas por Bruno Pereira e Dom Phillips. — Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Na segunda-feira (13), indígenas de Atalaia do Norte fizeram uma manifestação em apoio a lideranças da Univaja. O ato também ocorreu em solidariedade às famílias dos desaparecidos.

Os indígenas percorreram as principais ruas do município, com flechas e faixas. Eles também protestaram contra o governo do presidente Jair Bolsonaro e contra o projeto de lei 191, que autoriza a mineração e construção de hidrelétricas em terras indígenas, e o projeto de lei 490, que prevê alterações na demarcação de terras indígenas, o chamado “marco temporal”.

“Bolsonaro, queremos justiça pelo indigenista Bruno e pelo jornalista Dom”. Em outras faixas, os indígenas escreveram: “O povo kanamari resiste”.

Atalaia do Norte é um município que concentra quase 76% do território do Vale do Javari. O local é conhecido por ser a terra indígena que concentra o maior número de indígenas isolados no mundo.

No município de Atalaia do Norte, além dos não-indígenas, vivem indígenas das etnias Marubo, Mayoruna, Matis, Kulinas, Kanamari e recentemente contactados os Korubo e os Tsohom-dyapa. Segundo um levantamento do Terras Indígenas do Brasil, cerca de 6 mil indígenas vivem no Vale do Javari.

Indígenas fazem protesto.  — Foto: Alexandre Hisayasu/Rede Amazônica
Indígenas fazem protesto. — Foto: Alexandre Hisayasu/Rede Amazônica

Linha do tempo

Indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips desapareceram no dia 5 de junho.  — Foto: TV Globo/Reprodução
Indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips desapareceram no dia 5 de junho. — Foto: TV Globo/Reprodução
  • Dia 5/6 (domingo) – Bruno e Phillips foram vistos pela última vez quando chegaram na comunidade São Rafael por volta das 6h. De lá, eles partiram rumo à cidade de Atalaia do Norte, viagem que dura aproximadamente duas horas, mas não chegaram ao destino.
  • Dia 7/6 (terça-feira) – a Polícia prendeu Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como “Pelado”. Durante buscas na casa dele, policiais militares encontraram uma porção de droga, além de munição de uso restrito das Forças Armadas. Na ocasião, também foi apreendida a lancha usada por ele. No domingo, dia em que o indigenista e o jornalista desapareceram, ele foi visto por ribeirinhos passando no rio logo atrás da embarcação dos dois, no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte.
  • Dia 8/6 (quarta-feira) – Uma testemunha ouvida pela Polícia disse que viu Amarildo e uma segunda pessoa na lancha no dia em que a dupla desapareceu.
  • Dia 9/6 (quinta-feira) – A prisão temporária dele foi decretada pela Justiça na quinta (9) e amostras do sangue encontrado na lancha foram encaminhadas para Manaus, onde passam por análise.
  • Dia 10/6 (sexta-feira) – Equipes que fazem buscas pelo indigenista e pelo jornalista britânico encontraram “material orgânico aparentemente humano”, no rio, próximo ao porto de Atalaia do Norte. De acordo com a nota, divulgada pela Polícia Federal (PF), o material encontrado foi encaminhado para análise pericial pelo Instituto Nacional de Criminalística da PF.
  • Dia 12/6 (domingo) – A Polícia Federal encontrou um cartão de saúde com nome de Bruno e outros itens dele e de Dom Phillips. Durante a tarde, os bombeiros disseram ter encontrado uma mochila, um notebook e um par de sandálias na área onde são feitas as buscas pelo jornalista inglês e pelo indigenista no interior do Amazonas. Já os indígenas afirmaram que também encontraram uma nova embarcação na área de buscas.
  • Dia 13/6 (segunda-feira) – A mulher do jornalista britânico, Alessandra Sampaio, disse que os corpos dele e do indigenista foram encontrados. Mas, as autoridades que atuam nas buscas, lideradas pela Polícia Federal (PF), não confirmam a informação.
  • Dia 14/6 (terça-feira) – A Polícia Civil informou que já ouviu nove pessoas no inquérito que investiga os sumiços, sendo oito testemunhas e um suspeito, o “Pelado”. A mulher dele também foi ouvida, mas não quis comentar sobre o caso.
  • Em nota encaminhada na noite de terça, a Polícia Federal confirmou a prisão temporária de Oseney da Costa de Oliveira, de 41 anos, conhecido como “Dos Santos”. Ele é irmão de “Pelado” e o segundo suspeito preso por envolvimento no desaparecimento de Dom e Bruno.
  • Ainda durante as ações da PF realizadas na terça, um remo e cartuchos de arma de fogo foram apreendidos durante as buscas.

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