BERLIM e JERUSALÉM — Um cessar-fogo entre Israel e o Hamas terá início às 2h de sexta-feira (20h desta quinta-feira no horário de Brasília), anunciaram o grupo islamista que controla a Faixa de Gaza e o governo israelense na noite de hoje, meio da tarde no Brasil.
Após dias de pressão internacional e esforços de mediação do Egito, do Qatar e da Jordânia, o cessar-fogo foi aprovado pelo Gabinete de Segurança do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O confronto de 11 dias deixou 232 palestinos mortos em Gaza,incluiindo 65 crianças e 39 mulheres, e 12 mortos em Israel por foguetes lançados pelo Hamas.
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O estopim para a maior onda de violência entre os dois lados desde que Israel invadiu Gaza, em 2014, foi a repressão aos protestos de palestinos contra o despejo de quatro famílias do bairro de Sheikh Jarrah, no setor árabe de Jerusalém, ocupado por Israel em 1967.
Apesar de várias indicações de que o cessar-fogo estava a caminho, os confrontos continuaram nesta quinta, quando bombardeios israelenses mataram mais cinco palestinos na Faixa de Gaza, enquanto foguetes lançados pelo Hamas deixaram um soldado de Israel ferido.
Segundo o comunicado do Gabinete do premier Netanyahu, a proposta aceita foi feita pelo Egito, mencionando um cessar-fogo “mútulo”, e “sem quaisquer condições prévias”.
Já o Hamas declarou que “vai cumprir esse acordo enquanto a Ocupação [Israel] fizer o mesmo”, como afirmou Taher al-Nono, chefe de comunicação do líder do grupo, Ismail Haniyeh, à Reuters.
Osama Hamdan, integrante da cúpula política do Hamas, afirmou ter recebido “garantias de que as agressões à Mesquita do Domo da Rocha e a Sheikh Jarrah cessariam”. A TV Mayadeen, ligada ao grupo libanês Hezbollah, ele não detalhou quais garantias seriam essas ou como seriam implementadas. Ao Haaretz, um integrante do governo de Israel chamou a fala do integrante do Hamas de “mentira completa”.
Países da região, como Egito e Jordânia, desempenharam papel importante no cessar-fogo, já que têm interlocução com o Hamas, organização considerada terrorista pela União Europeia e pelos Estados Unidos. Nesta quinta, o presidente Joe Biden conversou, por telefone, com o colega egípcio, o general Abdel Fattah al-Sisi, segundo comunicado da Casa Branca.
“Os dois líderes discutiram os esforços para conseguir um cessar-fogo que ponha fim às hostilidades atuais em Israel e Gaza. Eles concordaram que suas equipes permaneceriam em constante comunicação para esse fim, e que os dois líderes seguiriam em contato”, disse a nota.
Segundo a Presidência egípcia, o país enviará delegações a Israel, Faixa de Gaza e Cisjordânia para acompanhar a implementação do acordo de cessar-fogo.
Mais cedo, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse ser favorável a “contatos indiretos” com o Hamas para conseguir uma trégua.
— É claro que deve haver contatos indiretos com o Hamas — disse Merkel em um fórum sobre a Europa em Berlim, lembrando que o Egito e outros países árabes já estavam fazendo isso. — O Hamas tem que se envolver de uma forma ou de outra, pois sem ele não haverá cessar-fogo.
O enviado da ONU para o Oriente Médio, Tor Wennesland, foi ao Qatar, onde se reuniu com o líder do Hamas no exílio, Ismail Haniyeh, disseram fontes diplomáticas à AFP.
“Inferno na terra”
Mais cedo, em um forte discurso na Assembleia Geral da ONU, que discutiu a situação no Oriente Médio, o secretário-geral António Guterres voltou a pedir o fim imediato das hostilidades e disse que “se há inferno na Terra, é a vida das crianças em Gaza”.
— Estou profundamente chocado com o contínuo bombardeio aéreo e de artilharia pelas Forças de Defesa de Israel em Gaza, que matou mais de 200 palestinos, incluindo cerca de 60 crianças — disse. — Os combates deixaram milhares de palestinos sem casa e forçaram mais de 50 mil pessoas a procurar abrigo em escolas, mesquitas e outros lugares da ONU com pouco acesso a água, comida, higiene ou serviços de saúde.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU anunciou uma reunião especial sobre a situação na semana que vem. Prevista para 27 de maio, a reunião foi solicitada pelo Paquistão, país coordenador da Organização para a Cooperação Islâmica, e pelas autoridades palestinas, que reuniram assinaturas suficientes dos 47 países-membros do organismo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse estimar que serão necessários US$ 7 milhões ao longo de seis meses para responder ao agravamento da crise de saúde na Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza. Em um “apelo de emergência” lançado nesta quinta, a OMS pediu ajuda para o envio de suprimentos médicos essenciais para os territórios palestinos.
Segundo a OMS, é urgente o envio de material para cirurgias de traumatologia, assim como para combater a pandemia da Covid-19. A organização internacional também recomendou o envio de pessoal médico para atender ao grande número de feridos e ajuda ao setor de saúde mental.
via-O Globo