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Dólar em alta, recessão à vista: por que a inflação americana afeta o Brasil

Preços ao consumidor subiram mais que o esperado, o que demanda ‘pé no acelerador’ dos juros americanos e temores de lentidão da atividade econômica global.

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Em mais um avanço que surpreendeu especialistas, a inflação dos Estados Unidos chegou a 9,1% na janela de 12 meses. O resultado, divulgado nesta quarta-feira (13), renova a maior alta de preços ao consumidor americano em mais de 40 anos.

Para o Brasil, o dado também é bastante negativo. A tendência é de desvalorização de moedas emergentes como o real e fortalecimento do dólar, que foi um dos grandes motores da inflação por aqui. Há risco também de uma retração das economias globais, que pode prejudicar o país no comércio exterior.

A potência da alta de preços nos EUA deve forçar o Federal Reserve (Fed), banco central americano, a seguir aumentando os juros no país. Em junho, o Fed promoveu uma alta de 0,75 pontos percentuais, no maior aumento da taxa básica desde 1994.

E sempre que há taxas mais altas por lá, os investidores internacionais costumam deixar os países emergentes e dar preferência aos títulos do Tesouro americano, considerados os ativos mais seguros do mundo.

A tendência, portanto, é que o mercado financeiro reaja com quedas das bolsas de valores ao redor do mundo, alta nos juros futuros e valorização do dólar contra moedas emergentes.

Inflação persistente

A preocupação principal é que, mesmo com o movimento de alta de juros que se iniciou em março, a inflação americana segue “espalhada” por diversos itens da cesta de consumo – e persistente.

Além dos incentivos econômicos concedidos durante a pandemia do coronavírus, que encheram o bolso dos americanos, entram na conta as paralisações nas cadeias produtivas por conta dos surtos de Covid e a guerra na Ucrânia, ambos fatores que impactam a distribuição de produtos.

Acontece que, mesmo com alguma melhora na logística econômica e certa queda no preço de commodities nos últimos meses, os preços seguem subindo no setor de serviços, por exemplo.

“Está longe de ser o que o Fed gostaria de ver, de uma inflação convergindo para a meta. O resultado é a ‘cereja do bolo’ para um novo aumento de 0,75 pontos percentuais nos juros do país”, diz Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.

Além de todos os efeitos imediatos no mercado, uma subida mais agressiva de juros nos EUA renovam a percepção de que será difícil desacelerar a inflação em economias desenvolvidas sem causar uma recessão.

“Para voltar a ter números de inflação mais razoáveis, o Fed vai ter que atuar de maneira dura na taxa de juros e talvez até mesmo provocar uma recessão”, diz Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG.

Efeitos no Brasil

Para o Brasil, o cenário também se traduz em injeção para a inflação. O efeito da valorização da moeda americana costuma ser de alta em produtos como os combustíveis, energia, logística e alimentos. São produtos que já são os vilões da nossa alta de preços.

Os produtores de alimentos, por exemplo, preferem exportar seus produtos a um dólar valorizado do que vender para indústrias nacionais. O efeito é diminuição de oferta interna e aumento dos preços.

Para os combustíveis, a lógica é parecida. Como o barril de petróleo é cotado na moeda norte-americana, ele fica mais caro conforme o real fica mais fraco.

E, desde que foi instaurada a política de paridade de preços internacionais (PPI) pela Petrobras, em 2016, o mercado tenta igualar o preço da gasolina na refinaria com o valor internacional. Ou seja, os reajustes são resultado das oscilações dos preços do petróleo e do câmbio.

Um caso de recessão global geraria efeito parecido. Com menos dólares entrando pela diminuição das trocas comerciais, podem piorar a arrecadação federal, os investimentos das empresas exportadoras e novo enfraquecimento do real.

Bem posicionada no mercado de commodities, a moeda brasileira chegou a se valorizar no início do ano com aumento do preço de commodities por conta da guerra na Ucrânia. Para quem investia em países emergentes, a Rússia deixou de ser opção, o que trouxe fluxo de dólares para o país.

Mas o câmbio voltou a subir desde o fim de maio com a alta de juros realizada pelo Fed e pelo afrouxamento do cuidado interno com as contas públicas. Só no mês de junho, o dólar subiu mais de 10% frente ao real.

As medidas adotadas pelo governo Jair Bolsonaro para conter o preço dos combustíveis renovou a crise de confiança de investidores de que o país leva a sério sua política fiscal. Exemplo é a “PEC Kamikaze”, em tramitação no Congresso, que eleva gastos públicos para fins eleitorais.

A PEC prevê, por exemplo, um aumento do valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e a criação de um “voucher” de R$ 1 mil para caminhoneiros autônomos até o fim do ano. Mas, a proposta desenhada para trazer algum alívio para o bolso da população pode acabar agravando a situação financeira das famílias.

Com um cenário de inflação ainda mais pressionada, a tendência é que os juros fiquem em patamares altos por mais tempo, o que causa um freio aos investimentos de empresas e à criação de empregos no médio e longo prazo.

Por g1

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