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A Amazônia em um frasco: Costa Brazil lança Aroma, seu primeiro perfume

Francisco Costa consagra a expansão da sua marca com uma fragrância que captura o aroma inebriante que marcou sua incursão na floresta brasileira.

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Não, Francisco Costa não está lançando um perfume. “É um aroma”, insiste ele sobre Aroma, novo capítulo da Costa Brazil, marca de beleza lançada pelo designer brasileiro após deixar a direção criativa da Calvin Klein e experienciar uma imersão na Amazônia. O que era pra ser uma viagem de férias entre amigos da turma da moda nova-iorquina, acabou se tornando uma imersão na tribo Yaminawá, no Acre.

Seria clichê dizer que Francisco voltou transformado dessa experiência. Claro que a imensidão e a diversidade da floresta, cuja paisagem surpreendeu o designer pela geografia montanhosa, pelos espaços verdes de vegetação baixa e pelos incontáveis rios que cortam o tapete verde, e que as tribos e comunidades locais deixaram sua marca. Porém, mais do que uma jornada espiritual, a viagem rendeu uma ótima ideia de negócio.

“Os Yaminawás acendem fogueiras noite e dia. E durante todo o tempo que passei com eles, um aroma de terra, de folhas secas no chão, ligeiramente defumado estava impregnado no ar. Mas foi só no último dia que percebi que esse odor vinha de uma resina que eles queimavam quando acendiam os fogos”, lembra-se ele. O ingrediente em questão é o breu, uma resina perfumada da árvore Almacega, que além do perfume amadeirado (imagine um Palo Santo, porém mais complexo e sofisticado), possui propriedades calmantes e hidratantes que se tornaram o coração das fórmulas dos produtos de skincare da Costa Brazil. “A verdade é que durante o trajeto de volta no barco, com um pedaço de breu no bolso, eu sabia que queria criar um perfume”, revela ele.

Por que demorar tanto e lançar uma linha de skincare antes? “Não queria ser o designer que deixa a moda e de cara lança um perfume”, explica Francisco, cujo universo da perfumaria lhe era familiar dos anos na Calvin Klein (ele era implicado nas decisões finais, mas o processo de desenvolvimento ficava totalmente a cargo da Coty, que detém a licença de fragrâncias da marca).

Desta vez, nada de briefings de marketing ou de lançamentos focados em mercados emergentes específicos. Com um pedaço de breu em mãos, Francisco bateu à porta de David Moltz, perfumista americano independente e criador da marca de nicho D.S. & Durga, para capturar o aroma da floresta que tanto o marcou em um frasco. Se criar um perfume foi um desafio? “Foi a coisa mais divertida que já fiz”, sorri ele. “Roupas são extremamente visuais, você pode tocar… Um perfume, você consegue imaginar na sua cabeça e depois precisa retranscrevê-lo”.

Negando totalmente o esquema de pirâmide olfativa, Aroma é uma colagem de ingredientes (a maioria brasileiros) cultivados e colhidos de maneira sustentável: breu, flores brancas, óleo de laranja do Brasil, pimenta rosa, gerânio bourbon, óleo essencial de noz-moscada, mirra, madeira de cedro, vetiver, completados por alguns ingredientes de síntese (criados em laboratório), como almíscares, Clearwood (molécula captiva da Firmenich que lembra o patchouli) e uma versão sintética de patchouli.

O resultado é um perfume amadeirado terroso, que se transforma na pele e ao longo do tempo, envolvendo epiderme, roupas e todos ao redor, e que tem tudo para agradar os numerosos fãs de Santal 33, o perfume cult da Le Labo. “Tiramos todos os ingredientes que poderiam ter um impacto negativo na natureza e por isso acabamos optando por versões sintéticas de alguns deles”, explica Francisco, cuja marca foi adquirida ano passado pela gigante da biotecnologia Amyris, empresa americana conhecida por fornecer versões sintéticas de ingredientes naturais para a perfumaria, cosméticos, produtos farmacêuticos, aromas e sabores.

O frasco é um show à parte: inspirado pelo trabalho de Piero Manzoni, o bloco de madeira (certificada) faz bonito não só na penteadeira, mas em qualquer cômodo da casa. A peça terá valor de item de colecionador, já que os dez novos perfumes da marca que serão lançados em breve terão uma embalagem totalmente diferente. Spoiler: um deles terá uma versão diferente do breu, descoberta por Francisco durante a visita a uma família no Amapá, que lhe mostrou uma variedade super fresca e cítrica da tal resina que virou seu talismã.

“Eu sempre andei com um punhado de cravos e, toda vez que me sentia estressado ou ansioso, tirava eles do bolso, cheirava, e aquilo me acalmava. Hoje em dia, costuma queimar um pouco de breu quando acordo, virou um ritual. Ele é considerado sagrado por muitas comunidades, mas não quis muito insistir nessa dimensão pois para mim, qualquer objeto pode ter esse poder”.

Por Vogue

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